domingo, 19 de junho de 2011

GIGANTE ADAMASTOR !!





Adamastor é um mítico gigante baseado na mitologia greco-romana, referido por Luís de Camões n'Os Lusíadas.

Representava as forças da natureza contra Vasco da Gama sob a forma de uma tempestade, ameaçando a ruína daquele que tentasse dobrar o Cabo da Boa Esperança e penetrasse no Oceano Índico, os alegados domínios de Adamastor.

É o nome atribuído a um dos gigantes, filhos de Terra, que se rebelaram contra Zeus. Fulminados por este, ficaram dispersos e reduzidos a promontórios, ilhas e fraguedos. O seu nome surge, certamente, pela primeira vez com Sidónio Apolinário.

Foi popularizado ao ser usado com verdadeira mestria pelo poeta português Luís de Camões, no Canto V da epopeia portuguesa Os Lusíadas, como o gigante do Cabo das Tormentas, que afundava as naus, e cuja figura se desfazia em lágrimas, que eram as águas salgadas que banhavam a confluência dos oceanos Atlântico e Índico.

O episódio do Adamastor representa, assim, em figuração grandiosa e comovida, a sua oposição à audácia dos navegadores portugueses e a predição da história trágico-marítima que se lhe seguiria.

O Adamastor tem não só o papel de reforçar o positivismo da viagem, assim como o Velho do Restelo. Também dá ênfase ao «mais que humano feito» (feito sobrehumano) referido na proposição.

Realçando a coragem do Herói, individual ou colectivo, que enfrenta, apesar do medo, desafios superiores do poder do Homem, porque renega a sua emoção seguindo a ordem de el-rei.Na continuação do episódio, o narrador mostra-nos como este gigante tem uma fraqueza, um amor impossível, mostrando que até o mais poderoso ser padece dessa doença benigna que é o amor.

A sul do Cabo Bojador erguia-se um conjunto de lendas e superstições que a imaginação mitogénica criara a partir do mundo desconhecido. Os marinheiros quatrocentistas não podiam deixar de sentir o mistério que envolvia a transposição de tais obstáculos. As lendas representavam o medo do que havia no tenebroso cabo e para além dele.

À custa de uma experimentação contínua, os marinheiros portugueses aprenderam a recusar esses mitos e chegaram com Bartolomeu Dias ao Cabo das Tormentas, conhecido pela impossibilidade de se navegar, e que, passando a se chamar Cabo da Boa Esperança, lhes abria as portas da Índia.

Os mares desse cabo serviram muitas vezes de sepultura a naus e a gentes carregadas de riquezas e de desilusões, como que comprovando as profecias do Adamastor. Bocage escreveu um belo soneto relativo ás profecias do Adamastor :




Adamastor cruel ! ... De teus furores
Quantas vezes me lembro horrorizado !
Ó monstro! Quantas vezes tens tragado
Do soberbo Oriente dos domadores !

Parece-me que entregue a vis traidores
Estou vendo Sepúlveda afamado,
Com a esposa, e com os filhinhos abraçado
Qual Mavorte com Vênus e os Amores.

Parece-me que vejo o triste esposo,
Perdida a tenra prole e a bela dama,
Às garras dos leões correr furioso.

Bem te vingaste em nós do afouto Gama !
Pelos nossos desastres és famoso:
Maldito Adamastor ! Maldita fama !



É mencionado por Voltaire no capítulo dedicado a Camões do Essai sur la poésie épique. Aparece também na obra de Victor Hugo por duas vezes: em Os Miseráveis (Tomo III, Marius, cap III) e num poema dedicado a Lamartine (Les Feuilles d'automne, cap IX).

Alexandre Dumas refere o gigante por seis vezes nas suas obras: em O Conde de Monte Cristo (cap. XXXI), Vinte anos depois (cap. LXXVII), Georges (cap I), Bontekoe, Les drames de la mer, (cap I), CauseriesMes Mémoires (cap. CCXVIII). É também mencionado por Saramago, em sua obra chamada Intermitências da Morte.



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