Dinheiro virtual
As redes ponto a ponto (P2P), como Napster e Skype, já transformaram as indústrias da música e das telecomunicações.
Mas será que um rede ponto a ponto poderia mexer com o todo-poderoso sistema financeiro?
É isto o que está propondo um grupo de ativistas da internet e da liberdade civil.
O grupo está propondo a criação de uma nova moeda, que seria criada e distribuída por uma rede ponto a ponto batizada de Bitcoin - uma união dos termos bit e coin, moeda em inglês.
Esse dinheiro virtual já está sendo aceito para o pagamento de alguns bens e serviços. E tem gente afirmando que já está vivendo dele.
Bitcoin
Veja como funciona a rede Bitcoin.
Tal como acontece com o Skype, cada usuário do Bitcoin baixa e executa um programa cliente P2P no seu PC, que se comunica com os programas similares que estão sendo executados por outros usuários.
O passo seguinte é uma autêntica loteria: o programa em cada cliente P2P executa uma rotina matemática que tenta gerar um número menor do que um dado-alvo que muda constantemente.
A cada 10 minutos, um cliente consegue isto e é recompensado com uma certa quantidade de dinheiro virtual - atualmente 50 bitcoins (BTC).
É assim que são "impressos" os bitcoins.
Garimpeiros
Como ganhar a sorte grande desta forma se parece muito com procurar ouro, os usuários do Bitcoin estão sendo chamados de miners, num sentido que em português é melhor expresso por garimpeiro.
O bitcoins assim embolsados podem então ser usado para comprar serviços, como web design, ou vários tipos de produtos, que já incluem de camisetas a café moído.
Os garimpeiros podem fazer os pagamentos enviando seus bitcoins para outro endereço da rede P2P - uma sequência de caracteres alfanuméricos - que serve de chave pública em um sistema de criptografia.
Economia virtual
O "lastro" dos bitcoins está tanto na economia quanto no dinheiro real, emitido pelos bancos centrais: eles têm valor simplesmente porque as pessoas estão dispostas a aceitá-los como pagamento de bens e serviços reais ou trocá-los por notas e moedas tradicionais.
Os Bitcoins podem ser trocados por moeda convencional a uma taxa que está oscilando em torno de 1 BTC para cada 8 dólares.
Isso dá à "economia Bitcoin" um valor de cerca de US$ 50 milhões.
"A idéia do dinheiro criado e controlado por todos, em vez da elite dos bancos centrais, parece encontrar eco em um monte de pessoas em todo o mundo", diz Gavin Andresen, o principal desenvolvedor do projeto Bitcoin, que vive em Massachusetts, nos Estados Unidos.
As origens do Bitcoin não são claras: o programador original do sistema é Satoshi Nakamoto, mas ele não é mais um colaborador ativo. "Eu não sei nada sobre ele, e nunca o conheci", disse Andresen.
A natureza anônima do sistema P2P torna impossível saber quantos garimpeiros há atualmente - o conjunto de clientes Bitcoin está processando dados a uma taxa equivalente a mais de 50.000 processadores gráficos estado-da-arte.
O calcanhar de Aquiles do sistema pode estar justamente no seu crescimento: quanto maior for a rede, mais difícil será ganhar os bitcoins no sorteio. Deixar o computador rodando em tempo integral à espera da sorte pode sair mais caro do que os prêmios.
E a ideia parece ser que cada bitcoin valha cada vez mais: há atualmente 6,3 milhões de BTC em circulação, e os gerentes da rede calculam alcançar 21 milhões em 2140.
Legalidade
" Eu tenho vivido de bitcoins há cerca de meio ano," garante Nils Schneider, um desenvolvedor que aceita bitcoins em pagamento de web design e outros serviços.
Ele converte alguns dos seus rendimentos em dólares dos EUA, usando sites como o MtGox.com, que é dirigido por Mark Karpeles em Tóquio, no Japão. Karpeles cobra uma taxa de 0,65 por cento, e está ganhando 2.000 dólares por dia, juntamente com o equivalente em bitcoins.
" Toda a receita é reinvestida na tentativa de tornar a nossa empresa e os bitcoins legais no maior número possível de lugares," diz ele.
Como nas demais redes P2P, a legalidade é uma preocupação real: se o sistema realmente decolar, os governos provavelmente reagirão frente a uma nova forma de circulação de riquezas que não pode ser controlada, tornando impossível a cobrança de impostos.
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