Nefertiti (c. 1380 - 1345 a.C.) foi uma rainha da XVIII dinastia do Antigo Egipto, esposa principal do faraó Amen-hotep IV, mais conhecido como Akhenaton.
Busto de Nefertiti
RAÍZES FAMILIARES :
As origens familiares de Nefertiti são pouco claras.
O seu nome significa "a mais Bela chegou", o que levou muitos investigadores a considerarem que Nefertiti teria uma origem estrangeira, tendo sido identificada por alguns autores como Tadukhipa, uma princesa do Império Mitanni (império que existiu no que é hoje a região oriental da Turquia), filha do rei Tushratta.
Sabe-se que durante o reinado de Amen-hotep III chegaram ao Egito cerca de trezentas mulheres de Mitanni para integrar o harém do rei, num gesto de amizade daquele império para com o Egito;
Nefertiti pode ter sido uma dessas mulheres, que adotou um nome egípcio e os costumes do país.
Contudo, nos últimos tempos tem vingado a hipótese de Nefertiti ser egípcia, filha de Ay, alto funcionário egípcio responsável pelo corpo de carros de guerra que chegaria a ser faraó após a morte de Tutankhamon.
Aye era irmão da rainha Tié, esposa principal do rei Amen-hotep III, o pai de Akhenaton; esta hipótese faria do marido de Nefertiti o seu primo.
Sabe-se que a família de Aye era oriunda de Akhmin e que este tinha tido uma esposa que faleceu (provavelmente a mãe de Nefertiti durante o parto), tendo casado com a dama Tié.
De igual forma o nome Nefertiti, embora não fosse comum no Egito, tinha um alusão teológica relacionada com a deusa Hathor, sendo aplicado à esposa real durante a celebração da festa Sed do rei (uma festa celebrada quando este completava trinta anos de reinado).
CASAMENTO COM AMEN-HOTEP :
Não se sabe que idade teria Nefertiti quando casou com Amen-hotep (o futuro Akhenaton).
A idade média de casamento para as mulheres no Antigo Egipto eram os treze anos e para os homens os dezoito.
É provável que tenha casado com Amen-hotep pouco tempo antes deste se tornar rei.
O seu marido não estava destinado a ser rei.
Devido à morte do herdeiro, o filho mais velho de Amen-hotep III, Tutmés,
Amen-hotep ocupou o lugar destinado ao irmão.
Alguns autores defendem uma co-regência entre Amen-hotep III e Amen-hotep IV,
mas a questão está longe de ser pacífica no meio egiptológico.
A prática das co-regência era uma forma do rei preparar uma sucessão sem problemas, associando um filho ao poder alguns anos da sua morte.
Nos primeiros anos do reinado de Amen-hotep começaram a preparar-se as mudanças religiosas que culminariam na doutrina chamada de "atonismo" (dado ao facto do deus Aton ocupar nela uma posição central).
Amen-hotep ordenou a construção de quatro templos dedicados a Aton junto ao templo de Amon em Karnak, o que seria talvez uma tentativa por parte do faraó de fundir os cultos dos dois deuses.
Num desses templos, de nome Hutbenben (Casa da pedra Benben), Nefertiti aparece representada como a única oficiante do culto, acompanhada de uma filha, Meketaton.
Esta cena pode ser datada do quarto ano do reinado, o que é revelador da importância religiosa desempenhada pela rainha desde o início do reinado do seu esposo.
No ano quinto do reinado, Amen-hotep IV decidiu mudar o seu nome para Akhenaton, tendo Nefertiti colocado diante do seu nome de nascimento o nome Nefernefernuaton, "perfeita é a perfeição de Aton".
Nefertiti passou a partir de então a ser representada com a coroa azul, em vez do toucado constituído por duas plumas e um disco solar, habitual nas rainhas egípcias.
Durante algum tempo defendeu-se que Akhenaton teria introduzido pela primeira vez na história do mundo o conceito do monoteísmo, impondo às classes sacerdotais e populares o conceito de um só deus, o deus do sol, onde o disco solar representava o deus sol que regia sobre tudo na face da terra.
Hoje em dia porém considera-se que seria um henoteísmo exacerbado.
Os muitos templos que celebravam os deuses tradicionais do Egito foram todos rededicados pelo rei ao novo deus por ele imposto.
Especula-se que esta pequena revolução, entre outros possíveis objetivos, possa ter servido para consolidar e engrandecer ainda mais o poder e importância do faraó.
Após o reinado de Akhenaton, o Egito antigo voltaria às suas práticas religiosas politeístas.
NEFERTITI EM AKHETATON :
Akhenaton decidiu, igualmente a construção de uma nova capital para o Egito dedicada a Aton,
que recebeu o nome de Akhetaton ("O Horizonte de Aton").
A cidade situava-se a meio caminho entre Tebas e Mênfis, sendo o lugar onde
se encontram hoje as suas ruínas conhecido como Amarna.
A cidade foi inaugurada no oitavo reinado de Akhenaton.
Demorando apenas 3 anos para ficar pronta!
Um talatat (bloco de pedra) de Hermópolis (perto de Amarna)
mostra a rainha Nefertiti a destruir o inimigo do Egipto,
personificado por mulheres prisioneiras, numa cena que
até então tinha sido reservada aos reis desde
os tempos da Paleta de Narmer.
ESTELA QUE REPRESENTA A FAMÍLIA REAL.
VIDA FAMILIAR :
Nefertiti teve seis filhas com Akhenaton :
Meritaton, Meketaton, Ankhesenpaaton, Neferneferuaton,
Neferneferuré e Setepenré.
Pensa-se que as três primeiras filhas nasceram em Tebas antes
do sexto ano de reinado e as três últimas em Akhetaton
entre o sexto e o nono ano de reinado.
A segunda filha do casal, Meketaton, faleceu pouco antes
do décimo segundo ano de reinado, como mostra uma cena
que representa Akhenaton e Nefertiti a chorar diante
do leito de morte da filha, essa filha teria morrido afogada.
Durante o reinado de Akhenaton espalhou-se por todo Egypto uma peste,
além de um surto de malária, conhecido na época como "doença mágica"
que matou 3 filhas do casal, além de quase ceifar a vida de Tuthankamon.
A família real é representada em várias estelas
em cena de intimidade familiar, com Nefertiti a amamentar uma filha
ou com o casal a brincar com estas enquanto recebe os raios de Aton,
que terminam em mãos com o símbolo do ankh.
Trata-se de representações até então
não presentes na arte egípcia.
2 FILHAS DE NEFERTITI.
FRAGMENTOS DE UMA PINTURA MURAL DE AMARNA.
Um aspecto que gera alguma perplexidade nestas representações
são os crânios alongados dos membros da família real.
como um homem muito diferente da norma
e representado fora dos padrões rígidos da cultura milenar da época,
exibindo femininos e andróginos, com uma cintura fina,
porém com quadris largos e coxas decididamente femininas.
Além disso, em várias obras os seus seios são aparentes.
A sua face também aparece alongada
e com lábios carnudos, femininos e sensuais.
Para alguns estas características indicariam
que a família sofreria de síndrome de Marfan,
enquanto que outros consideram tratar-se
de uma mera tendência estética exagerada,
que visava criar novos padrões estéticos à semelhança
do que tinha acontecido no campo da religião,
segundo historiadores, Akhenaton queria mostrar nessas esculturas
que somos muito mais que imagens, e pedia para
ser retratado dessas formas para escandalizar os co-cidadãos,
e também pelo fato de querer mostrar
que ele era o "Grande esposo real" de Nefertiti,
que assumiu a direção do Egypto como co-regente,
deixando Akhenaton livre para ser o sumo sacerdote de Aton,
as únicas imagens reais de Akhenaton e Nefertiti
foram esculpidas em suas tumbas mortuárias,
onde mostram claramente que Nefertiti
era a mulher mais bela da época e Akhenaton
não tinha os traços dos egípcios conhecidos.
Com Kia, uma esposa secundária, Akhenaton teve dois filhos,
Nebnefer, que morreu durante o surto de peste e Tutankhaton
que depois que voltou á Tebas foi obrigado
a mudar seu nome para Tuthankamon,
pois depois da morte de Akhenaton,
o Deus Aton, foi proscrito por alguns anos.
Kia teria morrido no parto de Tutankhamon,
e a mesma serviu apenas para dar a Akhenaton
dois filhos homens para continuar o reinado,
visto que Nefertiti não conseguia gerar filhos varões.
BUSTO INACABADO DE NEFERTITI.
O DESAPARECIMENTO DA RAINHA :
Nefertiti acompanhou o seu marido lado a lado em seu reinado porém,
a certa altura, no ano 12 do reinado de Amen-hotep ela esvanesce
e não é mais mencionada em qualquer obra comemorativa ou inscrições
e parece ter sumido sem deixar quaisquer pistas.
que teria deixado de ser a principal amada do faraó, preterida a favor de Kiya.
Objectos da rainha encontrados num palácio situado no bairro norte de Amarna
sustentam a visão de um afastamento.
Hoje em dia considera-se que o mais provável foi o contrário :
Kiya foi talvez afastada por uma Nefertiti ciumenta.
Uma hipótese que procura explicar o silêncio das fontes
considera que Nefertiti mudou novamente de nome
para Ankhetkheperuré Nefernefernuaton.
Esta mudança estaria relacionada com a sua ascensão
ao estatuto de co-regente.
Ainda segundo a mesma hipótese quando Akhenaton faleceu
Nefertiti mudou novamente de nome
para Ankhetkheperuré Semenkharé
e governou como faraó durante cerca de dois anos.
Há ainda outra hipótese, como os sacerdotes de Amon
não aceitavam o Deus Aton como único do Egipto,
eles teriam mandado assassinar Nefertiti
pois a consideravam o braço direito de Akhenaton,
sua morte teria desestabilizado o faraó que tinha em sua figura
o apoio indiscutível para o Projeto do "Deus Único" representado por Aton,
cerca de dois anos depois, Akhenaton veio a falecer de forma misteriosa,
assim, sua filha primogênita com Nefertiti
- Meritaton,
foi elevada ao estatuto de "grande esposa real".
O seu reinado foi curto, pois segundo historiadores,
ela, seu marido e outros habitantes de Amarna
na época foram assassinados e proscritos.
Restando de sangue real apenas,
Tuthankamon então com 9 anos
e sua outra irmã Ankhesenamon com 11 anos.
Porém, muitos especialistas acreditam
que esta pessoa foi um filho de Akhenaton.
Já outros egiptólogos, como o professor David O'Oconnor
da Universidade de Nova York (New York University),
especulam :
Poderia se tratar de amor entre iguais, entre dois homens,
dadas as características singulares de Akhenaton?
BUSTO DE NEFERTITI.
O BUSTO DE NEFERTITI :
A 6 de Dezembro de 1912 foi encontrado em Amarna
o famoso busto da rainha Nefertiti, por vezes também designado
como o "busto de Berlim" em função de se encontrar na capital alemã.
A descoberta foi da responsabilidade de uma equipe arqueológica
da Sociedade Oriental Alemã (Deutsche Orient Gesellchaft)
liderada por Ludwig Borchardt (1863-1938).
A peça foi encontrada na zona residencial do bairro sul da cidade,
na casa e oficina do escultor Tutmés.
O busto de Nefertiti mede 50 cm de altura,
tratando-se de uma obra inacabada.
A prova encontra-se no olho esquerdo da escultura,
que não tem a córnea inscrustrada;
Ludwig Borchardt julgou que esta se teria desprendido
quando encontrou o busto, mas estudos posteriores revelaram
que esta nunca foi colocada para não causar inveja as deusas.
Segundo o costume da época os achados de uma escavação
eram partilhados entre o Egito
e os detentores da licença de escavação.
O busto de Nefertiti acabaria por ser enviado para a Alemanha,
onde foi entregue a James Simon,
uma dos patrocinadores da expedição.
Contudo, a forma como saiu do Egipto
é pouco clara e alvo de disputas.
Atualmente o Egito alega que Borchardt escondeu a peça,
versão contraposta à que alega que os responsáveis
pelas antiguidades egípcias não deram
importantância ao busto, deixando-o partir.
Em 1920 a obra foi doada ao Museu Egípcio de Berlim,
onde passou a ser exibida a partir de 1923,
tornando-se uma das atrações da instituição.
Até então, as representações conhecidas da rainha,
mostravam-na com um crânio alongado,
sendo a rainha vista como uma mulher
que provavelmente sofria de tuberculose.
O busto revelou-se determinante
na alteração da percepção da rainha,
que muitas mulheres dos anos 30
procurariam imitar em bailes de máscaras.
Durante a Segunda Guerra Mundial a Alemanha
retirou as peças dos museus de Berlim
para colocá-las em abrigos.
O busto de Nefertiti foi guardado
num abrigo na Turíngia,
onde permaneceu até ao fim da guerra
até que o exército americano
o levou para Wiesbaden.
Em 1956 o busto regressou a Berlim Ocidental.
A ALEGADA MÚMIA DE NEFERTITI :
Em Junho de 2003 a egiptóloga Joanne Fletcher da Universidade de York
anunciou que ela e a sua equipe teriam identificado
uma múmia como sendo a rainha Nefertiti.
Em 1898 o egiptólogo Victor Loret descobriu
o túmulo do rei Amen-hotep II no Vale dos Reis.
Como foi o trigésimo quinto túmulo a ser encontrado,
este recebeu a designação de "KV35"
na moderna egiptologia (King Valley´s 35).
Para além da múmia deste rei,
encontraram-se onze múmias
numa câmara selada do túmulo.
Três destas múmias foram deixadas no local,
devido ao seu elevado estado de deterioração,
tendo as restantes sido levadas para o Museu Egípcio.
Duas múmias eram de mulheres
e a terceira de um rapaz.
Uma peruca encontrada neste túmulo junto a uma das múmias
chamou a atenção de Joanne Fletcher
que a identificou com as perucas
de estilo núbio utilizadas no tempo de Akhenaton.
Para Fletcher, especialista em cabelos,
esta peruca foi usada por Nefertiti.
Para além disso,
o lóbulo da orelha estava furado
em dois pontos (uma marca da realeza),
com impressões de uma tiara no crânio.
A múmia não tinha cabelo
o que corresponderia à necessidade
de Nefertiti manter o cabelo raspado
para poder utilizar a coroa azul
e também para proteger-se contra piolhos
e o calor do Egito na época retratada.
Contudo,
a arcada dentária da múmia
estava identificada como sendo
de uma mulher de vinte e cinco anos,
o que torna pouco provável
tratar-se de Nefertiti.
Mas, logo depois
se reparou outro detalhe interessante,
os ossos da múmia estavam juntos e sólidos,
o que só pode significar que a múmia
tinha entre trinta e trinta e cinco anos,
o que de novo levanta a possibilidade
desta ser a múmia de Nefertiti.
A misteriosa múmia foi teoricamente
golpeada na boca
destruindo boa parte de seu rosto.
Os ferimentos mostravam que tal golpe
foi realizado depois da mumificação,
quando possíveis homens teriam entrado na tumba,
mas não há uma pista do porque.
A explicação para o golpe foi que,
na tentativa de apagar Akhenaton da história egípcia,
teriam golpeado a rainha na boca,
impedindo que seu ka entrasse no pós-vida,
como uma vingança.
Todas as jóias que a ligavam com a realeza foram roubadas.
Mas ainda assim através do raio-X
foi possível identificar os famosos 'pinos de Nefer'
usados pela rainha Neferititi
e também usados na mumificação
de membros da família real.
O cérebro da múmia também foi preservado,
uma característica da décima oitava dinastia
(a dinastia em qual Akhenaton governou).
Baseados nos estudos da Dra. Joanne Fletcher,
era bastante provável que a múmia fosse de Nefertiti.
Com isso, ela conseguiu permissão do governo egípcio
para performar um exame de DNA.
Infelizmente, o exame mostrou
que a múmia não era de Nefertiti,
mas sim da irmã dela.
As buscas pela múmia de Nefertiti continuam.
...........................................
Nenhum comentário:
Postar um comentário