Você entra no cinema. Assiste ao filme normalmente e, terminada a sessão, descobre que está com uma vontade repentina e inexplicável de tomar refrigerante e comer pipoca. Sem conseguir se conter, gasta nesse lanche aquele restinho de dinheiro que não podia gastar.
Resigne-se : você acaba de se tornar mais uma vítima da mensagem subliminar. Presente em filmes, desenhos animados, quadros, músicas, propagandas e em diversas outras mídias, esse tipo de técnica vem sendo usado nas últimas décadas para manipular gostos, ações e ideologias de pessoas de todas as idades e sexos por meio de um mecanismo sofisticado de influência do nosso inconsciente.
A questão é : devemos nos preocupar com isso ?
Segundo a definição oficial, mensagem subliminar é todo tipo de mensagem que não pode ser captada diretamente pelos sentidos humanos. ”Subliminar” refere-se ao que está ”abaixo do limiar”.
Assim, a percepção subliminar é “a capacidade do ser humano de captar de forma inconsciente mensagens ou estímulos fracos demais para provocar uma resposta consciente”.
Ou seja, o inconsciente consegue perceber e armazenar uma quantidade muito maior de imagens, frases, mensagens e sons do que o consciente – como fotos expostas por pouco tempo aos nossos olhos ou ruídos baixos demais para serem percebidos.
Com isso, a pessoa que assimila esses estímulos acaba sendo influenciada sem perceber.
Toda celeuma em torno do assunto começou em 1957, quando o americano James Vicary, especialista em marketing, criou o conceito. Ele contou à imprensa ter patenteado uma nova técnica de vendas que batizou de “projeção subliminar”.
Basicamente, resumia-se a usar um aparelho chamado taquitoscópio para projetar cenas em uma tela de cinema em altíssima velocidade. Com isso, conseguia inserir imagens entre os quadros de um filme durante uma fração de segundo.
Pesquisas comprovaram que o cérebro reage a cenas projetadas a uma velocidade de exposição de até 1/3.000 de segundo, a mesma dotaquitoscópio. Assim, como as imagens eram exibidas a uma velocidade maior do que o olho humano podia acompanhar, não eram percebidas conscientemente.
Vicary apostava no potencial da técnica em campanhas de publicidade. Decidido a provar seu método, ele inseriu duas frases durante a exibição do filme “Férias de Amor”, com Kim Novac :
”Beba Coca-Cola” e “Coma pipoca”.
Nas noites em que as frases foram projetadas, as vendas de pipoca aumentaram 57,7%, e as do refrigerante, 18,1%.
A repercussão foi gigantesca.
Não é à toa : segundo essa hipótese, seria possível influenciar a mente de uma pessoa sem que ela percebesse.
Mesmo tendo Vicary confessado em 1962 que parte dos resultados foi fraudada, o impacto não arrefeceu.
Daí em diante, muitos foram os estudos sobre o assunto.
O Dr. Roger Sperry, ganhador do prêmio Nobel de Neurofisiologia e Anatomia de 1981, por exemplo, fez um experimento em que projetava uma fotografia de uma mulher nua a uma velocidade muito elevada para um paciente, que esboçava sorrisos sem entender o porquê. Simultaneamente, os aparelhos registraram alterações em seu cérebro.
A partir de Vicary, as mensagens subliminares invadiram a mídia.
Elas são veiculadas em diferentes meios de comunicação, como TV, cinema, rádio, histórias em quadrinhos, revistas, RPG, fliperamas, vídeo games, músicas, informática, teatro, jornais, outdoors, embalagens de produtos e capas de DVDs e CDs, entre outros.
É claro que existe muito exagero, fanatismo e gente que enxerga coisas onde não existem.
Pessoas que vivem imaginando que as letras tais e tais dessa ou daquela marca ou empresa são o número da besta, 666, ou enxergando mensagens inexistentes – e com isso vendem centenas de livros e DVDs sem o menor embasamento em argumentos sólidos.
Mas há também fatos incontestáveis.
A publicidade é próspera em mensagens subliminares de cunho sexual, inseridas nas peças de propaganda para vender mais.
A Coca-Cola, por exemplo, teve de recolher milhares de cartazes do refrigerante na Austrália, em 1995, depois que se descobriu que num cubo de gelo da ilustração havia um desenho que remetia a um ato de sexo oral.
Já num cartaz da bebida Gilbby´s Gin, pode-se ver no copo a palavra sex (“sexo”).
Como berço da experiência de Vicary, o cinema também é muito visado. De brincadeira ou propositalmente, profissionais escondem imagens a cada 24 quadros, que, a cada segundo, é o mínimo que o olho humano precisa para registrar movimentos.
Um exemplo clássico foi a descoberta, em 1999, da imagem de uma mulher nua em dois fotogramas do longa de animação ”Bernardo e Bianca”, da Disney. Foi a primeira vez na história que a empresa reconheceu haver mensagens subliminares em seus filmes e ordenou a retirada de 3,4 milhões de fitas de locadoras.
O produtor W.B.Key, do filme “O Exorcista”, reconheceu publicamente vinte anos após o lançamento do longa-metragem que ele continha mensagens subliminares violentas e assustadoras para mexer com os nervos do público.
Sons em baixa freqüência de porcos sendo degolados misturados com vozes de mulheres tendo orgasmos foram usados, por exemplo, na cena em que a protagonista estava prestes a ser possuída pelo demônio.
Durante a guerra do Vietnã, o governo americano exibia para os soldados filmes com imagens subliminares de vietcongues fazendo caretas terríveis. Conscientemente imperceptíveis, tinham como objetivo despertar nos combatentes uma ojeriza e um ódio fortes contra seus inimigos.
O recente longa de animação infantil ”Madagascar” teve a exibição proibida em Joinville (SC) pelo juiz Alexandre Morais da Rosa, da Vara da Infância e da Juventude.
Ele acatou uma denúncia que afirmava que “o filme, de maneira subliminar, passa mensagens de estímulo ao consumo de drogas, especialmente o ecstasy“.
Já em ‘Uma Cilada para Roger Rabbit” há um take em que a personagem Jessica Rabbit abre as pernas e, sem calcinha, seus genitais ficam visivelmente à mostra.
O tipo de mensagem subliminar mais comum no cinema é a inserção disfarçada da palavrasex (”sexo”, em inglês) em takes de filmes, sendo a maioria de animação.
Os estúdios juram que é impressão do público. Em ”Monstros S.A.”, na cena em que os protagonistas estão na caverna do Abominável Homem das Neves, tem-se a sensação de se ver a palavra nas formações de gelo que saem do teto.
Já em ”O Rei Leão”, a palavra se forma claramente na poeira que o felino Simba levanta à beira de um precipício.
E no filme ”Navio Fantasma”, aos 27 minutos e 11 segundos, a fumaça do cigarro de uma personagem também parece formar“Sex”.
Muitas capas de fitas de vídeo e cartazes também contém elementos que remetem a mensagens subliminares, como versões americanas dos filmes “101 Dálmatas” (onde se vêem diversos itens escondidos no cenário), “A Pequena Sereia” (no palácio de ouro uma das torres sugere um pênis), “O Silêncio dos Inocentes” (no inseto em destaque se vê uma caveira que, de perto, revela mulheres nuas) e, novamente, ”O Rei Leão” (a parte clara do rosto do leão lembra uma mulher de topless, de costas).
Na TV, a primeira experiência oficial com mensagem subliminar foi feita em 1974, quando a emissora Telecast fez quatro inserções da frase “Compre” numa propaganda do jogo “Kusker Du”.
O comercial foi o responsável pelo aumento inesperado e considerável das vendas do brinquedo. Mas o caso mais comentado no Brasil foi o da MTV.
Em 2002, a emissora foi condenada, em primeira instância, a pagar uma indenização de R$ 7,5 milhões por danos morais ao consumidor, devido à inserção num de seus comerciais de 180 imagens que mostravam mulheres despidas, em posições eróticas e sadomasoquistas.
Na música, um dos mecanismos mais usuais para inserir mensagens ocultas é o dobackward masking. O fenômeno ocorre quando se reproduz uma fala, um discurso ou depoimento de trás para a frente.
Acredita-se, conforme pesquisas realizadas nas universidades de Standford e de Los Angeles, que o cérebro é capaz de entender o sentido de mensagens invertidas nas músicas, detectando o real significado do que foi falado.
Um dos casos mais comentados é o de “Não se reprima”, canção do grupo Menudo. Ao se tocar de trás para a frente, há quem jure ouvir a frase “Satanás vive”.
O grupo de rock Led Zeppelin chegou a ser levado à Justiça sob a acusação de transmitir mensagens satânicas ocultas no disco : “Stairway to Heaven”. A famosa música-título traz a frase “It’s a feeling I get, when I look to the west and my spirit is crying for leaving” [''É uma sensação que tenho quando olho para o oeste e meu espírito clama pela partida''].
Afirmam os críticos que, ao se tocar este trecho ao contrário, ouve-se: “I have got to live for Satan“. (“Tenho que viver para Satanás”).
E mais : “Sim ao diabo, não tenhas medo do diabo, não sejas um idiota. Quero que o Senhor caia de joelhos diante do diabo”.
Os músicos geralmente ignoram e não comentam as acusações, ou porque são verdadeiras ou porque geram publicidade grátis ou porque as consideram tão ridículas que não merecem comentários.
Entre os grupos acusados de transmitir mensagens subliminares estão Kiss (“Unifica-te, funde! Se me amas, corta-te! O próprio diabo é teu deus!”), Black Sabbath (“Jesus, tu és repugnante!” e “Toma tua marca e vive!”), Beatles, Eagles, Iron Maiden e Prince.
Entre os brasileiros, são alvos de acusações artistas como Alceu Valença, Balão Mágico, Claudinho e Buchecha, Engenheiros do Hawaii, Legião Urbana, Capital Inicial, Roberto Carlos, Raul Seixas, Zélia Duncan e Xuxa (você pode ouvir músicas ao contrário nos web sites
http://www.mensagemsubliminar.com.br/conteudo.php?id=LTkzMzIuNA== e tirar suas próprias conclusões).
A banda teen RBD foi acusada de fazer apologia do satanismo por alguém insuspeito: a vice-presidente do fã-clube do grupo no Chile, Francisca Fabio, de 16 anos.
Em entrevista ao jornal “Las Últimas Noticias”, ela afirmou que duas músicas da banda contêm mensagens satânicas quando são executadas ao contrário, “Rebelde” e “Sálvame”. “
Dá para escutar claramente eles falando ‘ven y abrazame demonio‘ (“vem e abraça-me, demônio”) em “Rebelde”. Já no tema “Sálvame” dizem ‘me lleva lo malo’ (“o mal me leva”)”, afirmou.
No Brasil, não há nenhuma lei que proíba explicitamente a mensagem subliminar. Porém, de acordo com a legislação, ela fere o artigo 20 do Código de Ética dos Publicitários, segundo o qual toda as propagandas devem ser explícitas.
Há ainda no artigo 36 do Código de Defesa do Consumidor um inciso que proíbe anúncios dissimulados, como resultado do direito constitucional à liberdade de escolha.
Assim, a mensagem subliminar para efeito de propaganda acaba sendo inconstitucional, o que já levou empresas a serem autuadas por usarem a técnica.
Em 2001, a companhia de cigarros Souza Cruz, por exemplo, teve de retirar da TV um anúncio dos cigarros Free por ordem do Ministério Público.
Por três décimos de segundo aparecia no vídeo uma pessoa fumando, seguida de outra na mesma situação.
Mensagem subliminar na Bíblia ?
A primeira pessoa de que se tem registro escrito de ter utilizado um tipo de influência subconsciente foi, por incrível que pareça, Jacó.
Diz a Bíblia em Gênesis 30 que, após trabalhar muitos anos para seu tio Labão, ele fez um trato aparentemente inviável e bastante favorável a seu tio : toda cria do rebanho com pelagem lisa continuaria com Labão, já as ovelhas e as cabras que nascessem salpicadas, malhadas e escuras seriam o seu salário.
Jacó, então, tomou varas verdes de estoraque, amendoeira e plátano e descascou nelas riscas brancas.
Depois, pôs as varas em frente aos rebanhos, nos bebedouros, e os animais concebiam quando iam beber.
As ovelhas passaram a dar crias listradas, salpicadas e malhadas.
Assim, a imagem das varas, que não era focada conscientemente, ficava registrada nos seus subconscientes repetidas vezes durante o dia.
Esses estímulos subliminares de algum modo interferiam na pelagem dos embriões.
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